sábado, 12 de maio de 2012

SABEDORIA DO EVANGELHO - INTERPRETAÇÃO DA LEI

INTERPRETAÇÃO DA LEI

Mat. 5:17-20 17. Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas: não vim revogar, mas completar. 18. Pois em verdade vos digo: até que o céu e a Terra caduquem, de modo algum caducarão, nem um i, nem um til da Lei ,até que tudo evolua. 19. Aquele, pois, que solucionar um destes mínimos mandamentos e assim ensinar aos homens, será chamado mínimo no reino dos céus; mas aquele que praticar e ensinar esse será chamado grande no reino dos céus. 20. porque vos digo, que se vossa perfeição não exceder à dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no reino dos céus.



Ao iniciar as referências à lei mosaica e seus aperfeiçoamentos por Ele introduzidos, Jesus declara que não veio revogar, mas COMPLETAR a lei. As traduções vulgares trazem "cumprir", o que não seria nada de extraordinário, já que TODOS nós viemos também para cumprir a lei: seria uma afirmativa inane. Todavia o verbo plêrâsai significa "completar" (plêrós quer dizer "cheio", "completo"). Sua missão, pois, é trazer complementos, acréscimos, para completar o que Moisés ensinou. Depois explica que durante todo o ciclo de vida deste planeta, "até que o céu e a Terra caduquem", tudo terá que fatalmente evoluir.
 E durante todo esse período, nem uma vírgula da Lei caducará, nada se omitirá, sem que seja cumprido.

O verbo génêtai (gígnomai) exprime o tornar-se, o devenir, isto é, a evolução: toda a Lei se cumprirá, até que inexoravelmente tudo evolua. A seguir vem um trecho que, nas traduções vulgares, apresenta um contra-senso incompreensível, um absurdo. Lemos: "quem VIOLAR um pequeno mandamento e assim ensinar, entrará no reino dos céus, embora seja chamado mínimo". Como poderá penetrar no "reino dos céus" aquele que violar um mandamento da Lei, ainda mais com a agravante de ensinar o erro aos outros? Será igualado com o prêmio ao que cumpre a Lei?

 Não é possível compreender esse disparate. Por exemplo: alguém viola um mandamento, mata outrem, e ensina os homens a matar, levando-os a fazerem o mesmo; terá ele o mesmo "reino dos céus" que aquele que jamais matou alguém? Sim, em ponto menor, mas basta isso para constituir um prêmio ... Não, não é possível. A tradução está mal feita. Vamos ao original. O verbo usado é lúô, na forma lúsêi. Tem o significado de soltar, solver, resolver, solucionar, aclarar, explicar. Secundariamente pode traduzir-se por "violar", também, mas o contexto não permite esse sentido.

 O que compreendemos, pois, é que aquele que conseguir solucionar ou explicar um dos mandamentos, por mínimo que seja, e assim ensinar aos homens, será premiado com a entrada no "reino dos céus", embora obtenha um lugar pequenino. Mas aquele que solucionar, compreendendo-o e explicando-o, e assim ensinar aos homens, e além disso praticar e viver todo o conjunto dos mandamentos, esse obterá o ingresso no "reino dos céus", e será chamado grande.

 Como vemos o sentido fica lhano e fácil, tem lógica e sequência, desenvolvimento claro e ilação perfeita. Realmente a lei é ensinada em palavras humanas, e estas jamais conseguirão traduzir os conceitos espirituais; o ensino é esotérico; e é indispensável que seja encontrada a solução do verdadeiro sentido profundo e oculto, para que se compreenda o alcance real ao ensinamento; sem o que, aparecerá somente a casca externa e seca de uma linguagem fria e material, que só serve para dirigir os atos exteriores do comportamento da personalidade.

 Isso, entretanto, irá servindo para preparar as personalidades, fazendo-as amadurecer aos poucos, até atingirem o grau de capacidade indispensável à compreensão profunda. Uma vez maduro, o "espírito" começará a compreender, através do véu da letra, o espírito verdadeiro que estava oculto. Paulo acena a isso (2 Cor.3:14-17): "Mas suas mentes foram endurecidas, pois até o dia de hoje, na leitura do Antigo Testamento, permanece o mesmo véu, não lhes sendo revelado que em Cristo é ele tirado. Contudo, até o dia de hoje, sempre que lêem Moisés, está colocado um véu sobre o coração (mente) deles. Todas as vezes, porém, que algum deles se converter (unir) ao Senhor, o véu lhe é tirado. Ora, o Senhor é o Espírito, e onde há o Espírito do Senhor, aí há liberdade".

Dá-nos este trecho, com absoluta clareza, sem ambages, o pensamento de Jesus em relação à leitura e interpretação dos preceitos da lei. De pouco adianta entendê-los à letra, admitir-lhes a eficiência, obedecer-lhes exterior e mecanicamente: é preciso solucionar os enigmas que se ocultam sob as palavras. Quem conseguir fazê-lo, embora seja numa parte mínima, conseguirá uma aproximação do encontro, ainda que leve e passageiro, experimentando as delícias do reino espiritual ("dos céus") na paz interior.

 Verdade é que permanece apenas nos primeiros degraus da evolução espiritual. Mas, se tiver o merecimento de ensinar o pouco que compreendeu às outras criaturas, já se terá tornado um pequeno foco de luz para o mundo, e alcançará o reino. Sim, porque embora fraca, é sempre LUZ.

Já aqueles que tiverem atingido a solução para todos ou quase todos os ensinamentos; os que souberem interpretá-los à luz crística; os que penetrarem o sentido profundo; e, além de tudo isso, os que os VIVEREM, e ainda ensinarem aos homens quais os segredos das palavras do Livro sagrado, esses serão chamados grandes no reino espiritual: terão obtido a unificação com o Cristo, única chave para a legítima interpretação, e esparzirão Sua Luz, a todos iluminando, como tersos refletores do Logos Divino que em todos habita.

Sabedoria do Evangelho - Carlos Torres Pastorino.

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