sábado, 18 de agosto de 2012

ADOLESCÊNCIA - A DROGA NO CONTEXTO FAMILIAR

Olá,

 Se os pais suspeitam e descobrem que o filho está usando drogas precisam primeiramente escutar o que o filho tem a dizer para depois compreenderem o que está acontecendo. Este uso pode ser devido a uma oportunidade que surgiu e não significa que ele já é um dependente.

 Todo cuidado é pouco, uma abordagem inicial desastrosa pode se tornar mais perigosa do que o uso de drogas em si. De nada adianta a agressão, a violência e o desespero, cabe o diálogo e o esclarecimento dos riscos de acordo com as informações científicas, sem terrorismo, porque exagerar riscos pode ser um estímulo para o uso, pode ser uma forma de testar limites. Muitas famílias espíritas estão sofrendo com seus filhos, mesmo conhecendo a dimensão espiritual, a lei da ação e da reação, a necessidade do resgate de nossas dívidas, os perigos de repetirmos os mesmos erros de outrora, acabam fracassando em seus projetos e retardando a sua evolução espiritual.



 Na adolescência o espírito retoma suas antigas tendências, por isso Divaldo Franco recomenda a prática da meditação pelos jovens, vista como a principal alternativa para evitar ou substituir as drogas. Os especialistas recomendam atividades artísticas e esportivas como alternativas saudáveis para a substituição de drogas, mas nossa experiência confirma o quanto a arte e o esporte, infelizmente, é insuficiente, podendo se tornar mais um meio de propagação de drogas.

Os psicólogos alertam sobre a necessidade de dar segurança para os filhos através do afeto, da escuta e da atenção concentrada, fator de proteção contra as drogas, aliás se fôssemos mais atentos com os sinais que nossos filhos apresentam, não seríamos pegos de surpresa, faríamos a intervenção correta antes mesmo que as drogas entrassem em suas vidas. Estudos concluíram a depressão como um transtorno psiquiátrico mais associado à dependência às drogas. Quantos jovens não estão sofrendo deste mal? Recentemente descobriu-se que crianças com dificuldades de aprendizagem, hiperatividade, déficits de atenção e concentração são mais propensas a se tornarem dependentes de drogas.

 Geralmente os familiares não identificam a dificuldade, não encaminham a especialistas como a um psicopedagogo, por exemplo, e rotulam como rebeldia, preguiça, desinteresse, indisciplina, provocando um grande abalo na auto-estima e no desenvolvimento de outras potencialidades. Se os distúrbios de aprendizagem fossem tratados, estas consequências drásticas não aconteceriam, como exemplo relata Silveira (1999) muitos dependentes de drogas que apresentavam transtornos de atenção e foram adequadamente tratados pararam de consumir drogas.

 Os conflitos e rebeldias fazem parte da adolescência normal e não indicam necessariamente envolvimento com drogas, os jovens precisam aprender a conhecer suas emoções e lidar com suas dificuldades e problemas, principalmente desenvolverem sua autonomia para aprenderem a serem responsáveis por suas opções. O desejo de drogas é sempre a busca de algo mais. Os pais transmitem aos filhos quando eles próprios ingerem drogas e os seus filhos acabam fazendo a mesma coisa. Isso é explicado geneticamente por algumas correntes que acreditam que já existe uma predisposição manifestada no equilíbrio bioquímico.

Pesquisas e estudos de Bergeret & Leblansc mostraram que existem patologias comumente encontradas nas famílias de usuários (nuclear ou mais ampla), tais como: alcoolismo paterno ou materno, uso abusivo de medicamentos, excessos de automedicação, óbito precoce de um dos pais, condutas de suicídio, distúrbios mentais, sintomatologias neuróticas graves, estados depressivos, etc. Quando constatada a dependência do filho às drogas, percebem-se intensos conflitos porque, ao mesmo tempo que o filho rejeita o sistema de valores dos pais, permanece em uma situação de dependência infantil, revelando falhas na capacidade de reconhecer-se como indivíduo adulto e capaz.

Existe um tempo de latência longo entre a descoberta pela família (cegueira familiar) e o uso de drogas pelo jovem. Jovens dependentes podem viver anos como crianças dóceis e afetuosas, sem serem descobertos pelos pais. A revelação do uso incomoda os pais e perturba o usuário na lua de mel com as drogas. O jovem geralmente demonstra extrema dificuldade de relacionamento com a figura de "autoridade", desafiando e transgredindo compulsivamente. A realidade fica insuportável, os únicos momentos dignos de serem vividos são quando vive o imaginário, alucina o real e descobre no corpo sua fonte de prazer. Antes que a dependência se instale, a família precisa reverter o processo, deve assumir sua parte da responsabilidade, procurando orientação, quando necessário, e compreendendo que o jovem usuário é portador de um sintoma que inclui o familiar, e cada qual deve procurar o significado desse sintoma.

 Metacomunicar a respeito da história familiar não significa culpabilizar os pais. Todos os membros da família são vítimas de um sintoma, cuja modificação irá alterar a homeostase familiar. Não existem culpados, a família é parte do problema e, como tal, é parte da solução. A família se depara com o problema com extrema perplexidade e despreparo sobre o assunto, procurando encontrar soluções mágicas e imediatas. Sternschuss e Angel analisam a família do toxicômano e concluem que a primeira reação da família ao saber do uso de drogas por um de seus membros é de total desconhecimento, seguida de "cegueira familiar" e, quando realmente constata, eclode a crise familiar.

Pesquisas realizadas no Centro Monceau, presidido por C. Oliveinstein, que atende centenas de famílias de heroinômanos, comprovaram a existência de mitos familiares (conceito elaborado por Ferreira e J.Byng-Hall, apud Bergeret e Leblansc, 1991). Seus estudos analisam três tipos de "mitos familiares": o da "boa convivência"; o do "perdão, da expiação e da salvação" e o mito da "loucura na família".

* O "mito da boa convivência" faz com que a família não reconheça nenhuma necessidade de mudança na sua dinâmica, culpa os colegas e traficantes e a frase típica é: "tudo começou depois que meu filho ficou amigo de fulano".

 * O "mito do perdão, da expiação e da salvação" é típico do caso do jovem que é depositário da culpa da família inteira, é o bode expiatório. Se um dia ele sair dessa situação, outro membro aparece para o equilíbrio do sistema familiar.

* O "mito da loucura na família", pressupõe que a loucura circula dentro da família, quando um membro se recupera, outro apresenta um sintoma ou uma doença como mecanismo regulador.

O meio familiar exerce um papel importantíssimo na formação do indivíduo e no aprendizado da vida social. Alguns sinais podem alertar para um possível uso de drogas, porém, necessariamente também podem indicar que há algo de errado com o filho, alguma crise ou sofrimento que vai exigir intuição, amor e perspicácia para ajudá-lo.

No entanto, alguns sinais são preocupantes: troca do dia pela noite, insônia, vermelhidão nos olhos, desaparecimento dos objetos de valor, agressividade excessiva, queda brusca do rendimento escolar, e outros. Como afirma Oliveinstein (1980): "Num momento como este, o único papel possível consiste em dizer claramente que os adultos não têm nenhum paraíso para oferecer, mas que a escolha não é entre o paraíso e a sociedade. Querendo ou não, já que o mundo gira, a escolha é entre um futuro inserido (e que pode ser tranqüilo) e a desgraça, porque na sociedade em que vivemos, e quaisquer que sejam os motivos e o valor que lhe damos, a droga leva à loucura, à morte ou à rejeição."

Livro:

A PREVENÇÃO DE DROGAS À LUZ DA CIÊNCIA E DA DOUTRINA ESPÍRITA

REFLEXÕES PARA JOVENS E EDUCADORES

Rosa Maria Silvestre Santos

Pedagoga, psicopedagoga, psicodramatista, consultora de prevenção às drogas, co-dirigente do curso "Escolinha" de Pais.



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