sábado, 28 de dezembro de 2013

R. E. 1866, p. 78

Olá,

“Diremos primeiramente que o Espiritismo não podia ser responsável pelos indivíduos que tomam indevidamente a qualidade de médium, não mais que a ciência verdadeira não é responsável pelos escamoteadores que se dizem físicos.
 Um charlatão pode pois dizer que opera com a ajuda de Espíritos, como um prestidigitador diz que opera com a ajuda psíquica; é um meio, como outro, de lançar poeira aos olhos; tanto pior para os que nisto se deixam prender.
Em segundo lugar, o Espiritismo condena a exploração da mediunidade, como contrária aos princípios da Doutrina do ponto de vista moral, e demonstrando que não deve nem pode ser um ofício nem uma profissão; todo médium que não tire de sua faculdade algum lucro direto ou indireto, ostensivo ou dissimulado, descarta, por isso mesmo, até a suspeição de trapaça ou charlatanismo; desde que não seja solicitado por algum interesse material, o malabarismo seria sem propósito.
O médium que compreende o que há de grave e de sagrado em um dom dessa natureza, creria profaná-lo, ao fazê-lo servir às coisas mundanas para si e para os outros, ou se dele fizesse um objeto de divertimento e de curiosidade; respeita os Espíritos como quereria que se o respeitassem quando se tornar um Espírito, e não os colocaria em ostentação.
 Por outro lado, sabe que a mediunidade não pode ser um meio de adivinhação; que ela não pode descobrir os tesouros, as heranças, nem facilitar o êxito nas chances aleatórias, e não lê a sorte, nem por dinheiro nem por nada; então ela não terá jamais de desembaraçar-se com a justiça.
Quanto à mediunidade de cura, ela existe, isto é certo; mas está subordinada a condições restritas, que excluem a possibilidade de se ter uma sala aberta às consultas, e sem suspeita de charlatanismo, é uma obra de devotamento e sacrifício, e não de especulação.
 Exercida com desinteresse, prudência e discernimento, e encerrada nos limites traçados pela Doutrina, ela não pode cair sob o golpe da lei.
Em resumo, o médium, segundo os objetivos da Providência e do Espiritismo, quer seja artesão ou príncipe, porque dela há no palácio e nas choupanas, recebeu um mandato que cumpre religiosamente e com dignidade; não vê em sua faculdade senão um meio de glorificar Deus e de servir a seu próximo, e não um instrumento para servir seus interesses ou satisfazer sua vaidade; se faz estimar e respeitar por sua simplicidade, sua modéstia e sua abnegação, o que não é o fato com aqueles que procuram dela fazer um degrau.”

 Allan Kardec

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