terça-feira, 25 de março de 2014

Evangelho - Pobreza

Olá,

Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.

 Uma das mais sublimes funções do Evangelho do Senhor — e do Espiritismo — é a de preparar o homem para que saiba viver com dignidade em quaisquer circunstâncias.
Do Evangelho, do seu tempo até hoje; e do Espiritismo na atualidade, como restaurador dos postulados do Cristianismo.

Na riqueza, ou na pobreza, encontrará o ser humano, nas lições de Jesus e nos ensinos da Codificação, que harmoniosamente se identificam e se completam, os meios de viver, lutar e vencer com ombridade. Jesus não preconizou a miséria por condição indispensável à vida do homem, do mesmo modo que não indicou a fortuna por meio ideal, exclusivo, de o homem transitar, com êxito, pelos caminhos do mundo.
A missão do Evangelho foi e é a de preparar a Humanidade para que ela possa viver dignamente, quer na carência, quer na prosperidade. O que nos tem faltado, em nossas consecutivas experiências, é o fator “preparação”. Não sabemos comportar-nos, cristãmente, numa ou noutra situação: na riqueza ou na pobreza.
Quando os ventos conduzem o barco de nossa vida aos portos engalanados da fortuna, tornamo-nos egoístas e, por vezes, cruelmente impiedosos ante o sofrimento que se desdobra, ante nós, como se fora sugestão divina, suave e doce convite para que ajudemos aos mais necessitados. Mas a riqueza, quase sempre, oblitera os Sentimentos do homem. Sufoca-lhe os germens da solidariedade. Insensibiliza-o de tal modo que, enquanto a Bondade vai fugindo, sutilmente, humilhada, por uma das janelas do nosso coração, por uma de suas espaçosas e largas portas vai entrando o Egoísmo, via de regra acompanhado do seu dedicado pajem, do seu vigilante companheiro: o Orgulho. E não é só: mais atrás, espreitando, outra comparsa: a Prepotência.
 Quando o frio da adversidade, por sua vez, nos bate à porta, levando-nos às estações da pobreza, da dificuldade, caímos na paisagem da inconformação.
 Confiamo-nos, de imediato, à rebeldia.
 Entrega-mo-nos, levianamente, à revolta.
Substituímos a prece humilde — de ontem, pela blasfêmia irreverente, desrespeitosa.
Recusamos, assim, lamentavelmente, uma experiência que, muita vez, poderia representar a manifestação da Vontade do Senhor, que nos dá segundo o que necessitamos, e não segundo o que almeja a nossa consciência.

 O que nos falta, portanto, é preparação evangélica.
 É Cristianismo em  nosso coração e em nossa inteligência, para que saibamos viver na opulência — sem esquecer os deveres de solidariedade; e na pobreza —sem olvidarmos a obediência a Deus e o aspecto, essencialmente educativo, altamente educativo, de semelhante prova.
A pobreza, tanto quanto a riqueza, como expressivos e complexos fenômenos sociológico-espirituais de um mundo desajustado — de um mundo que demonstra ainda não conhecer a Deus —, nada valem em si mesmas, intrinsecamente.
A forma por que nos conduzimos, numa ou noutra experiência, é que falará por nós — acusando-nos ou defendendo-nos — no tocante à destinação espiritual.
O rico generoso, o rico que não repudiou o seu próximo, receberá da Lei, mais cedo ou mais tarde, o que a Lei reserva, igualmente, para o pobre de coração compassivo, de alma misericordiosa
. O afortunado cruel, explorador da necessidade alheia, o rico que se encastelou no trono do egoísmo avassalante, receberá da Lei, em qualquer tempo, o que a Lei reserva para o pobre revoltado, insubmisso e blasfemo.
 A Lei é impessoal.
A Lei está na consciência humana e nela estabelece o seu augusto e solene tribunal.
 O problema, como podemos ver, é de preparação —exclusivamente de preparação.
 Em síntese: de adaptação à LEI DO AMOR, ensinada e vivida por Jesus, e que a interpretação espírita, amena, suave e lógica, veio colocar ao alcance do homem. Não para que o homem a tenha por moldura, por ornamento exterior, mas para que o homem a utilize, a desfrute, através da união com Deus, do encontro pessoal com Jesus.
 Nem o Evangelho preconiza a mendicância, nem o Espiritismo lhe apóia a existência.
 Jesus e Kardec, em todos os seus ensinamentos, preconizam um mundo de trabalho e dignidade.
De solidariedade e amor. Do mais forte ajudando o mais fraco. Do mais rico colaborando a favor do mais pobre.
Um mundo de moralidade e respeito. De ordem e progresso.
 O Cristianismo e o Espiritismo preconizam uma sociedade em que os pobres saibam e possam conquistar, honestamente, o pão de cada dia, tanto quanto o rico saiba e queira transformar os seus patrimônios, de que, em última análise, é apenas administrador, em oportunidade de trabalho e prosperidade para todos.
 É tão infeliz o pobre que se revolta, diante da dificuldade, quanto o rico que se compraz, simplesmente, na satisfação do seu exclusivo interesse.
A um e outro reservará a Lei a inevitável consequência: o retorno a novas experiências, para que novas experiências lhes abram, a pobres e ricos desajustados, o entendimento ante a Vontade e os Desígnios do Administrador Universal:  — DEUS.
É tão feliz o rico que dá com alegria, e faz, da sua fortuna, um instrumento de prosperidade e justiça, visando ao progresso e ao engrandecimento da  coletividade onde a Divina Bondade o situou, quanto o pobre que, na simplicidade de sua vida, no anonimato de suas lutas, compreende e aceita as circunstâncias, por mais penosas e difíceis, que a Paternal Sabedoria lhe reservou.
 Quem faz a felicidade do homem é o próprio homem. Ou melhor, o homem através da compreensão do Poder Divino — desse Poder que o criou, o vem amparando e o vai conduzindo no rumo da perfeição. A felicidade não vem de fora para dentro, da periferia para o centro.
A tempestade pode estar rugindo, implacável, lá fora, mas o mundo interior de cada indivíduo pode estar sereno e plácido, como plácida e serena é a superfície de um lago.
Todavia, enquanto zéfiros brancos podem estar entoando, lá fora, a sinfonia da paz, a canção do sossego, dentro do homem podem estar em erupção os vulcões da inveja e do ciúme, da ambição e do ódio, da revolta e do desespero.
O problema, portanto, é de preparação para a luta, segundo os padrões do Evangelho, que a Doutrina Espírita veio estruturar na consciência humana.
 Compreender, compreender, compreender — eis a imperiosa, indisfarçável necessidade do ser. Compreensão, contudo, que resulte menos da cultura vaidosa que, edificada no materialismo e sem o lastro evangélico, tende a agravar as soluções; mas, compreensão que decorra do conhecimento espiritual, com base na ética do Cristianismo, que o Espiritismo veio revitalizar — anemizado que estava pela incúria dos homens.
Se o homem deseja, efetivamente, ser feliz, deve, sem embargo do seu trabalho, da sua luta, do seu empenho na sustentação de si mesmo e da sua família, guardar fidelidade à própria consciência. Utilizar, com nobreza e confiança, a oportunidade que o Pai lhe confiou: — na riqueza ou na pobreza. Na riqueza, tornando-se generoso e bom, dinâmico e progressista. E dizer: “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.”
 Na pobreza, tornando-se honesto e digno, correto e sincero na execução de seus deveres. E dizer: “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.”

 Martins Peralva                                     Estudando o Evangelho

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