quinta-feira, 4 de junho de 2015

Cotidiano - VELÓRIOS

Olá,

 Diante do corpo de alguém que demandou a Pátria Espiritual, examina o próprio comportamen­to,
a fim de que não te faças pernicioso, nem resva­les pelas frivolidades, que nesse instante devem ser esquecidas.
O velório é um ato de fraternidade e de afeição aos recém-desencarnados que, embora continuem vinculados aos despojos,
não poucas vezes perma­necem em graves perturbações.
 Imantados à organização somática, da qual são expulsos pelo impositivo da morte, que os sur­preende com o “milagre da vida”, não obstante em outra dimensão, desesperam-se, experimentando as­fixia e desassossegos de difícil classificação, acom­panhando o acontecimento, em crescente inquietude. Raras pessoas estão preparadas para entender o fenômeno da morte, ou possuem suficientes recur­sos de elevação moral a fim de serem trasladadas do local mortuário, de modo a serem certificadas do ocorrido em circunstâncias favoráveis, benignas.
 No mais das vezes, atropelam-se com outros desencarnados, interrogam os amigos que lhes vêm trazer o testemunho último aos despojos carnais, caindo, quase sempre, em demorado hebetamento ou terrível alucinação...
Em tais circunstâncias, medita a posição que desfrutas nos quadros da vida orgânica, consideran­do a inadiável imposição do teu regresso à Espiri­tualidade.
 Se desejas ajudar o amigo em trânsito, cujo corpo velas, ora por ele.
No silêncio a que te recolhes, evoca os acon­tecimentos felizes a que ele se encontrava vincula­do, os gestos de nobreza que o caracterizaram, as renúncias que se impôs e os sacrifícios a que se submeteu...
Recorda-o lutando e renovando-se.
Não o lamentes, arrolando os insucessos que o martirizaram, as aflições em rebeldia que experimentou.
 O choro do desespero como as observações ma­lévolas, as imprecações quanto às blasfêmias ferem-nos à semelhança de ácido derramado em chagas abertas.
De forma alguma registres mágoas ou desaires entre ti e ele, os vínculos da ira ou as cicatrizes do ódio ainda remanescentes.
Possivelmente ele te ouvirá as vibrações men­tais, sem compreender o que se passa, ou sofrerá a constrição das tuas memórias que acionarão des­conhecidas forças na sua memória, que, então,
 sin­tonizará contigo, fazendo que as paisagens lem­bradas o dulcifiquem — se são reminiscências
fe­lizes — ou o requeimem interiormente — se são amargas ou cruéis — fomentando estados íntimos que se adicionarão ao que já experimenta.
A frivolidade de muitos homens tem transfor­mado os velórios em lugares de azedas recrimina­ções ao desencarnado, recinto de conversas malsãs, cenáculo de anedotário vinagroso e picante, sala de maledicências insidiosas ou agrupamento para regabofes, onde o respeito, a educação, a conside­ração à dor alheia, quase sempre batem em reti­rada...
E não pode haver uma dor tão grande na Terra, quanto a que experimenta alguém que se despede de outrem, amado, pela desencarnação!
 Sem embargo, o desencarnado vive.
 Ajuda-o nesse transe grave, que defrontarás também, quando, quiçá, esse por quem oras hoje seja as duas mãos da cordialidade que te receberão no além ao iniciares, por tua vez, a vida nova...
Unge-te, pois, de piedade fraternal nas vigílias mortuárias, e comporta-te da forma como gostarias que procedessem para contigo nas mesmas cir­cunstâncias.

 “Deixai que os mortos enterrem os seus mortos”. Lucas: capítulo 9º, versículo 60.

 “Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo”.  O E.S.E. Capítulo 5º — Item 21, parágrafo 5.

Joanna de  Ângellis/Divaldo P. Franco               "  Florações Evangélicas  "

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